Imagine uma rua, como qualquer outra onde existe um bando de 15, 18 rapazes com idade entre 18 e 26 anos, do qual eu faço parte, um grupo de garotas de até 22 anos, a molecada que vive zoando tudo, as velhas fofoqueiras que sempre estão na calçada tratando da vida dos outros, uma igreja de crente, pessoas mais discretas que mal põe a cara para fora e uma mulher que odeia todo mundo. Seria mais uma rua comum nesse Brasil. Mas essa é especial, pois é a minha rua.
Essa mulher que odeia todo mundo e que acha que todo mundo odeia ela recebeu o apelido carinhoso de Velha do Inferno, apelido que foi dado por mim. Ela recebeu esse apelido porque sempre mandava qualquer um que pisasse na sua calçada ou que simplesmente olhasse para ela para o inferno.
Essa mulher mora na rua, tem uns 19 anos e nesse tempo ela sempre teve um ódio especial por mim. Talvez porque ela saiba que quem deu esse apelido carinhoso para ela fui eu. Talvez por isso ela também adore me xingar e me provocar na rua, usando termos que vão desde xingar de qualquer coisa até termos racistas. Eu sempre procurei ignorar porque tá na cara que ela tem, como dizem lá na rua, "problema na cabeça"
Pois em um desses dias de outubro, o mês que mudou minha vida, a coisa passou de um simples bate boca e foi para agressão física quando ela saiu nos tapas com uma vizinha. Depois de um tempo de calma, ela volta a agredir outras pessoas, mas dessa vez a distância, lançando pedras contra os motociclistas da rua (eu e + 8 do nosso grupo) e aí o bixo pegou, pois respondemos a altura, xingando ela. Eu até então conseguia manter a política de ignorar, mas ela lançava pedras sem ver quem estava na rua. Quase acerta duas meninas que não tinham nada com o assunto, acertaram pedras na casa de um vizinho muito gente boa e a coisa não ficaria assim.
Ela jogou dezenas de pedras. A única que um do nosso grupo jogou na casa dela quebrou uma telha e ela correu para dentro. Muito bom, ela não faz mais isso e tudo fica em paz.
Algum tempo se passa e no dia 22, quinta feira, eu estava na calçada junto com dois amigos conversando normalmente, como sempre acontece. Eram umas 22:30 e quando eu viro o rosto para ver quem estava passando na rua, era quem? A VELHA DO INFERNO!!!!!!
Eu virei o rosto na hora porque sabia que no mínimo ela teria um ataque de nervos se eu a encarasse. E ela passa resmungando "infeliz!!! maldito!!! idiota!!!".
Mas um amigo meu não agüenta e fala na hora "Infeliz o que véia? Vaza daqui vai!!!"
Essa mulher se vira e vem tirar satisfação com ele e ali eu vi a chance de finalmente falar umas coisas que estavam entaladas na garganta. Interrompi meu amigo, que estava debatendo com ela e já falei logo: "Durante esses 19 anos que a senhora mora aqui, quantas vezes eu dirigi a palavra a senhora?"
Ela ficou quieta, disse que de fato eu nunca havia falado com ela... Então eu avisei que aquela seria a primeira e que se ela entendesse bem o que eu iria dizer, seria também a ultima.
Em primeiro lugar, disse a ela que tinha testemunhas de que ela usava termos racistas contra mim. Ela adorava me chamar de macaco, preto desgraçado e outros termos. Falei que isso iria render muitos problemas para ela se ela continuasse com aquilo. Ela ficou pálida, percebi suas mãos tremendo e foi ali que eu vi finalmente a Dona Cida com medo de alguém.
Mas meu objetivo não era deixa-la com medo. Eu simplesmente queria que ela me deixasse em paz, parasse com aqueles ataques gratuitos. Depois de usar esse "psicológico" nela e perceber que ela estava com um certo medo, comecei a tentar convence-la de que ficar xingando os outros não iria adiantar em nada, que ela deveria aprender a ignorar certas coisas e viver a vida dela.
Daí ela começa a se fazer de vítima, dizendo ter muitos problemas, ser muito sozinha e outras coisas. Oras, se eu fosse jogar uma pedra em alguém por cada problema que tenho estaria com o braço cansado já.
No fim, ela disse que vai mudar seu comportamento (duvido), pediu desculpas e disse que nada daquilo iria se repetir. Assim espero.
Mas que foi bom ter visto ela com medo isso foi. Nunca vi aquela mulher colocar o rabinho entre as patas para ninguém. Já vi ela correndo atras do marido no meio da rua para espanca-lo. Incrível como usando tom de voz baixo eu tenha conseguido pelo menos por uns instantes domar a Velha do Inferno.
Mas eu to ligeiro porque isso pode ter sido uma farsa dela... As vezes ela já esta preparando o contra-ataque e eu vou estar esperto.
Que venha!
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